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domingo, 20 de março de 2016

(23)E PQ HOJE É DOMINGO, RECORDEMOS O CASO DO FRANCISCO!(26 anos escravo)

[TRAZIDO DO JORNAL PÚBLICO-19/3/2016]-[UM CASO DE ESCRAVATURA EM PORTUGAL!]

CAROS BLOGUISTAS: E PORQUE HOJE É DOMINGO, QUEREMOS RECORDAR O CASO DO FRANCISCO QUE VIVEU 26 ANOS ESCRAVIZADO EM PORTUGAL. SIM, EM PORTUGAL TAMBÉM VÃO ACONTECENDO DESTAS COISAS! MAS, TAL COMO DIZ O DITADO, UM MAL NÃO VEM SÓ E O FRANCISCO ACABOU POR MORRER SEM VER QUE SE FIZESSE JUSTIÇA!  VOTOS DE BOA LEITURA!
«“Francisco”, escravizado 26 anos, morreu sem o seu caso chegar a julgamento

Viveu numa quinta no Alentejo, às mãos de um casal com dois filhos, privado de ter namoradas e sem nunca ganhar um tostão. “Francisco” morreu em Novembro. Só agora o DIAP está em vias de emitir um despacho que, tudo indica, deve ser de acusação.

Esteve escravizado às mãos de uma família portuguesa, no Alentejo, durante 26 anos. Morreu aos 65, a 3 de Novembro de 2015, sem o seu caso ir a julgamento. E sem ter alguém da família ao seu lado. “Francisco”, nome fictício, foi feito prisioneiro de um homem e de uma mulher, e dos seus dois filhos, acusados de não lhe pagarem qualquer remuneração pelo trabalho no gado e na agricultura numa quinta em Évora e de lhe retirarem os documentos de identificação durante 26 anos.

Recentemente, a Polícia Judiciária remeteu o inquérito com proposta de acusação do crime de escravidão ao Ministério Público. O Departamento de Investigação e Acção Penal de Évora está em vias de proferir um despacho final e, pela leitura do que está no processo, tudo indica que seja de acusação. Se assim for, segue-se o julgamento. O crime de escravidão é punido com pena de 5 a 15 anos. Segundo dados do Ministério da Justiça, houve 10 condenações por crimes de escravidão nos tribunais de primeira instância entre 2007 e 2013 - sendo que parte da informação está protegida por segredo estatístico quando o número de condenados é inferior a três. Os dados de 2014 e 2015 ainda não foram compilados, mas em 2014 o Tribunal de São João no Porto condenou 13 pessoas naquele que ficou conhecido até agora como o maior processo de escravatura em Portugal. No ano passado, deram entrada na Polícia Judiciária 14 inquéritos relativos a este crime (foram 16 em 2014 e 12 em 2013).

“Em 26 anos nunca vi 5 tostões. Zero”, disse ao PÚBLICO em entrevista em Dezembro de 2013, três meses depois de ter escapado da quinta, ajudado por um amigo e pela GNR. Tinha um tumor nos pulmões, detectado logo quando foi acolhido. Até então não tinha recebido qualquer tratamento médico para a doença.

Além de não lhe pagarem e de lhe terem confiscado os documentos de identificação, os patrões privaram-no também de ter uma namorada ou de ter relações sexuais ao longo da sua vida adulta quase toda, acusava Francisco.

A patroa, Susana, tinha quase 60 anos, e o patrão, Fábio, quase 70 (nomes fictícios). Tinham dois filhos, rapazes, um nascido no início dos anos 1980, o outro em meados dessa década, agora também acusados do crime de escravidão. A Francisco davam apenas um dia de descanso, o domingo. Puseram-no a dormir num anexo da sua quinta em Évora.

Quando entrevistámos Francisco em 2013, o processo ainda estava em segredo de justiça e as informações, por uma questão de protecção, eram vagas. Francisco estava, na altura, aos cuidados da associação Saúde em Português, que gere um Centro de Acolhimento e Protecção a vítimas de tráfico de seres humanos do sexo masculino. Foi com eles que ficou até ao final da vida.

Agora, conseguimos verificar que a quinta onde viveu está a poucos quilómetros da cidade de Évora e não numa zona isolada como se poderia pensar. Fica num terreno onde se chega depois de percorrer uma curta estrada de terra batida, logo a seguir a uma creche para crianças, gerida por uma instituição católica – e muito perto de uma estrada de alcatrão onde passam vários carros e transportes públicos. A facilidade com que Francisco podia entrar e sair dali, fazer-se à estrada e andar nem uma hora até à cidade segundo o Google Maps, impressiona: mostra o medo com que vivia ao ponto de o paralisar e tornar incapaz de pedir ajuda.  (CONTINUA NOS COMENTÁRIOS)

NB:RECORDÁMOS QUE JÁ TIVEMOS ALGUNS PORTUGUESES A PASSAR POR ESTA SITUAÇÃO, PRINCIPALMENTE NOS INÍCIOS DESTA NOVA ONDA DE EMIGRAÇÃO. ENTRETANTO CRIARAM-SE ORGANISMOS DE APOIO AO EMIGRANTE E ESTAS SITUAÇÕES JÁ NÃO ACONTECEM COM TANTA FREQUÊNCIA...MAS AINDA ACONTECEM!

1 comentário:

  1. (CONT.)UM CASO DE ESCRAVATURA EM PORTUGAL

    A casa de um andar, com uma arquitectura tipicamente alentejana, tem barracões à entrada que os patrões de Francisco alugavam a várias pessoas. É uma zona com bastante movimento, onde entram e saem carros – pelo menos no dia em que o PÚBLICO lá foi o portão não estava sequer fechado e o anexo que terá servido de quarto a Francisco estava a ser remodelado. Um jovem que disse ser trabalhador de uma das empresas que aluga os barracões respondeu-nos que não sabia se os patrões estavam em casa. Ninguém. Cá fora, alguns objectos deixados de lado, coisas que demonstram que a casa é habitada.

    Sem luxo aparente, a moradia tem uma piscina, mobília modesta, escura, e vários motivos religiosos como crucifixos – vê-se numa reportagem fotográfica que consta do processo. É referido nos relatórios que o casal tinha bens suficientes para pagar a Francisco e que, no mandado de busca, foram apreendidas armas para as quais não tinha licença.»

    DAQUI:«https://www.publico.pt/sociedade/noticia/francisco-escravizado-26-anos-morreu-sem-o-seu-caso-chegar-a-julgamento-1726332»

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